Não dê bandeira!
Não dê bandeira!
09 de setembro de 2025
As comemorações e eventos do último domingo, 7 de setembro, despertaram minha curiosidade sobre as bandeiras. Fiquei intrigado e resolvi pesquisar como esse objeto tão emblemático surgiu. Descobri que elas se tornaram comuns a partir da Idade Média, o que faz todo sentido, pois me lembro de, quando criança, ter assistido a vários desenhos e filmes que retratavam os cavaleiros da Távola Redonda, datados do século XII. Em todos eles havia uma bandeira no alto de uma torre de castelo ou na ponta de uma lança — como no desenho do Pica-Pau, por exemplo.
As bandeiras, como as conhecemos hoje, são uma evolução da heráldica — os brasões e outros símbolos utilizados em escudos e armaduras para representar territórios e reinos. Ainda antes disso, civilizações antigas já utilizavam objetos semelhantes, chamados de vexiloides, que surgiram por volta de 1500 a.C. na China. Esses vexiloides consistiam em hastes adornadas com diversos materiais, usadas em cerimônias religiosas e desfiles. Eles me lembram os estandartes utilizados por povos de terreiro e pelos Reinos do Congado para expressar fé e identidade.
Acho tudo isso muito interessante e significativo. E, falando em significado, é válido lembrar que a bandeira de um país é um símbolo de extrema importância. Ela representa a identidade nacional, fomenta o patriotismo e a união entre os cidadãos, além de ser um elemento-chave para o reconhecimento internacional. A bandeira expressa os valores e a história de uma nação. Por isso, deve ser tratada com dignidade e respeito, tanto dentro quanto fora do país.
No Brasil, essa importância é reconhecida legalmente. A Lei nº 5.700, de 1971, define as normas para o uso e o respeito aos símbolos nacionais, incluindo a bandeira. De acordo com essa legislação, é proibido qualquer uso que desvirtue ou desrespeite o símbolo, como em propagandas indevidas ou manifestações que deturpem seu significado. O objetivo da lei é preservar a bandeira como um símbolo de união e orgulho nacional para todos os brasileiros.
Interessante notar que até os times de futebol têm suas bandeiras, e muitos torcedores choram, discutem, e até brigam fisicamente por elas. Paixão é paixão. Mas, diante disso, por que não vemos esse mesmo fervor e respeito pela bandeira do nosso Brasil? Por que alguém ousaria sobrepor uma bandeira estrangeira ou hasteá-la durante os desfiles que celebram o Dia da Independência?
Alguns dizem que isso ocorre por desconhecimento da importância da nossa bandeira. Mas será mesmo? Afinal, essas pessoas demonstram saber muito bem o valor simbólico de outra bandeira, a ponto de reverenciá-la, bater continência, e promovê-la com fervor. O mais contraditório é que, muitas vezes, essas homenagens são direcionadas a países que não hesitam em negar vistos, barrar a entrada de estrangeiros, prender e deportar brasileiros com base em legislações rígidas, sem qualquer esforço para garantir dignidade ou cidadania a quem vem de fora.
Por que, então, alguém se rebaixaria ao ponto de permitir que outra bandeira tomasse o protagonismo no dia em que se celebra a independência do seu próprio país? Que sentido há nisso?
É fundamental compreender que símbolos são construções coletivas, carregadas de significados sociais e históricos. Por isso, é urgente olharmos com mais criticidade para os aspectos socioculturais e políticos do nosso país. Precisamos avaliar com mais atenção quem escolhemos para representar o Brasil em cargos públicos, entender como esses representantes moldam nossa identidade nacional e, sobretudo, resgatar o senso de pertencimento, respeito e orgulho pelo que é nosso.
Não se trata de xenofobia ou de desprezo pelo que vem de fora, mas sim de coerência, de autoestima nacional e de um compromisso com a valorização dos nossos próprios símbolos, da nossa história e do nosso povo.
Prof. Dr. Seu João Xavier – Professor efetivo do Departamento de Linguagens e Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Linguista e Sociólogo – Mestre em Linguística Aplicada (UFMG) e Doutor em Estudos de Linguagens (CEFETMG). Autor de Racismo Estético: decolonizando mentes e práticas educativas; além de livros de crônicas.